5 de out. de 2008

O coco

Com diria minha avó, eles viviam se pegando. Meu pai e minha irmã, vira e mexe, ainda discutem sobre as coisas mais banais do mundo. Bom, meu pai discute sobre as coisas mais banais com qualquer um. Mas Cíntia faz o tipo rebelde sem causa que gosta de uma polêmica. Na verdade, ela deveria ser atriz. Depois conto por quê.

Às vezes, no entanto, ela dá uma de teimosa silenciosa. Aquele tipo que ouve como deve ser feito, mas só faz do jeito dela. Meu próprio relacionamento com minha irmã serve de exemplo. Eu argumento sobre algo, descrevo uma tese, rezo uma missa sob o olhar mais tranqüilo e atento que alguém pode lançar sobre o outro, porém na prática ela continua agindo como se a conversa não tivesse existido.

Indo para casa de minha avó com meu pai, ela comia um coco, enquanto ele dirigia, inacreditavelmente em silêncio, até que ela, depois de ter raspado toda a casca jogou uma banda da fruta pela janela.

– VOCÊ ESTÁ LOUCA?! – esbravejou ele.
– Como é que se joga uma banda de coco pela janela?!

Ela o olhou de canto, enquanto já raspava a outra banda.
– Não vê que pode provocar um acidente, pode matar alguém?! É uma irresponsabilidade total, um perigo! Sabe que é proibido, se um guarda flagrar, você pode ser presa, PRE-SA! Blablablá...

Pronto, o discurso tinha começado. Chegaria à casa de minha avó e ele continuaria falando da ameaça assassina de se jogar um coco pela janela. Realmente iria longe se ela não o interrompesse após o término de uma frase mais incisiva.

– Pronto? Acabou?
– Acabei. Disse ele, realmente mais calmo, achando que ela agora estaria consciente depois daquele sermão.

Ela então deu uma limpadinha nas mãos, com um ar “patrícia” de ser toda vez que despreza a opinião dos outros e disse sem mudar o tom de voz:
– Então se prepare porque eu vou jogar a outra banda.

Estava feito...
– MAS SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE QUE...

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