A partida era pela semifinal da Copa Brasil de 1999. O último campeonato brasileiro antes do ano 2000. Em campo Vitória e Atlético Mineiro, transmitido ao vivo. Todas as vezes que começava o jogo do Negão, como é carinhosamente chamado o Vitória, eu ligava para meu pai ou vice-versa.
Discutíamos como estava a equipe, fazíamos especulações a respeito de como o time iria jogar, essas coisas. Não que eu seja uma expert em futebol, era apenas mais uma ligação que tinha com meu pai, de quem herdei o gosto pelo esporte e pelo time rubro-negro.
Discutidas as preliminares do jogo, pão de queijo no forno e alguns amigos em casa, começamos a assistir. O jogo estava equilibrado. Primeiro tempo 0 a 0. No intervalo, eu e meu pai voltamos a nos falar.
– O que você está achando? – perguntei.
– É... Deveria ter feito um gol no primeiro tempo, mas está indo bem. Não sei, não sei...
Falamos ainda alguma coisa e desligamos. Em casa, eu e meus amigos comíamos os pãezinhos regados a refrigerante e cerveja. Alaíde acabara de chegar. Foi só pela festa. Não é nenhuma fanática por futebol.
– E aí, estamos torcendo para quem? Perguntou ela.
– Pro Vitória, é claro! Respondi, dizendo para se concentrar nos jogadores de
camisa vermelha e preta.
Depois de ouvir o pessoal se queixar do juiz, ela queria saber qual o número da camisa dele para identificá-lo melhor. Tudo bem, tudo bem... O importante era o pensamento positivo. De qualquer forma, deixamos claro que o Vitória era o time rubro negro, ou seja, de camisa vermelha e preta. Vai saber! Já que ela torce pelo Corinthians, poderia se empolgar com a camisa preta-e-branca do Galo.
Recomeça o jogo. O Vitória tem de ganhar! O empate favorecia o time mineiro, que já tinha ganhado o primeiro jogo por 3X0. O tempo passa e as jogadas são mal aproveitadas. Na torcida, vemos um cara de preto e vermelho engolindo um galo de borracha, sabe-se lá Deus como. A torcedora símbolo do Vitória, que parece o cão chupando manga, também é focalizada pelas câmeras em total clima de tensão.
Gritávamos em casa. Já tínhamos esquecido os pães de queijo. Claudinho, que é Bahia, virara Vitória desde criancinha. Cristiane, amiga dele, que torce para o São Paulo, também sofria conosco.
Gol. GOOOOOOOOOLLLLLLLLLL!!!!! Ufa, finalmente, 1X0 Vitória! Enquanto ligava para meu pai (também comentávamos os gols), o Galo fez o seu, aproveitando a baixa guarda do Vitória.
– Pô meu pai, cê viu.
– Pois é, quem não faz toma. Agora o negócio aqui tá feio, incontrolável.
– Como assim incontrolável. O time ainda tem chance.
– Não, eu estou falando de sua mãe. Ela está incontrolável.
– Como assim, o que houve?
– Essa história do Vitória estar perdendo, ela está culpando o juiz – disse ele, falando baixinho.
– Mas nem Vitória ela é?!
– Minha filha, – diz ele meio que tapando o fone – ela está aqui impossível! Xingando!
Minha mãe xingando?! Refleti. Ela nem é disso. Faz mais o estilo nem aí, do tipo, é apenas um jogo. Normalmente esse papel é de meu pai, que de cabeça quente recorre a todos os palavrões.
– Pois é, xingando. Repetiu ele. “Juiz viado, V I-A-D O!” Contou ele, imitando-a, tentando falar baixo para que ela não ouvisse. Com o telefone no ouvido e de olho na televisão vejo outra jogada perigosa do Atlético e o Vitória correndo outro risco de gol.
– Viado, viado...
Realmente é minha mãe xingando do lado de lá.
– Filha, peraí! Olha esses palavrões... Intervém meu pai.
O clima esquenta. Vitória parte para o ataque, mas o juiz dá falta contra o time.
– VIAAAAAAADO!!!!!!
– Filha, assim não dá, olha os vizinhos!
– Vizinhos?! – parece que ela o ouve por um breve instante...
– ...
– VIZINHOS VIADOS, VIADOS, VIADOS...
O Vitória faz o segundo gol depois de mais de 40 minutos de jogo. 2X1 para o Negão. Gritos aqui e do outro lado da linha. Ninguém mais se lembra quem são os viados.
5 de out. de 2008
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