Estava em casa com Alexandre quando meu pai ligou. Ale atendeu e passou para mim. Até então nunca tinham sequer se falado. Ale já tinha ouvido milhões de histórias sobre ele, mas não o conhecia pessoalmente. Meu pai me perguntou como eu estava, relatou sobre como estavam todos por lá, quis saber sobre o clima em São Paulo, me aconselhou a ter cuidado com as mudanças de temperatura... Em um determinado momento, ele começou a falar, como outras vezes, sobre televisão, o programa Show do Milhão e a sua indignação com participação dos universitários para ajudar os concorrentes.
– Olhe minha filha, esses universitários são umas porcarias. Seu pai vai te inscrever no programa, mas quando você for lá não peça ajuda para eles, porque eles não sabem nada! Não sabem nada! Naaada! Acredita que... E lá começava ele a contar alguma coisa sobre o que se passou no programa.
Ale me olhava com curiosidade sobre o que ele poderia estar falando. Passei o telefone para ele ter noção de como eram as conversas, o que fez Ale dar muita risada durante um tempo e me passar de volta antes que ele percebesse.
Meu pai terminou a conversa que eu no final das contas não entendi direito e nos despedimos, enquanto Alexandre comentava o quanto ele era engraçado. Acostumada a saber disso, nem perguntei sobre o que ele falava e rimos juntos.
Menos de um mês depois, meu pai morria. O pior dia da minha vida. Uma dor insuportável, física, cerebral, emocional, que rasga a gente por dentro. Mas acordamos no dia seguinte e no outro e no outro... Os dias se passam e a ausência física começa a ser substituída por lembranças, por recordações de histórias antigas e recentes que têm sempre alguém para contar.
Uma noite, assistindo o tal Show do Milhão, vejo Alexandre sair do quarto gritando:
– Não acreditem nos universitários, eles são umas porcarias, não sabem nada, não sabem nada, N A D A!
Por um instante fiquei catatônica. “Meu Deus, meu pai baixou em Ale, o meu namorado está incorporado!”, pensava eu meio encolhida no sofá em silêncio total. E enquanto mais eu o olhava, mais Ale falava alto:
– Não acreditem nos universitários, porque eles são uma vergonha!
Comecei a ficar realmente assustada, porque até os trejeitos eram iguais.
Após alguns segundos de desespero, vejo Alexandre olhar para mim com cara de satisfação e caindo na risada. Na mesma hora falei:
– O que foi isso Ale, você está louco?
– Ô paixão, desculpa imitar seu pai, mas não agüentei. Naquele dia, ele falando dos universitários foi muito engraçado. Você colocou o fone no meu ouvido e ele não parava de descer o pau nos caras! Agora, ouvindo a TV, não resisti.
Ale voltou para o quarto para se vestir. Eu, mais calma e até um pouco decepcionada, tinha acabado de ver meu namorado desincorporar.
12 de out. de 2008
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